quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Traumatismos Vértebro-Medulares


     

          Os traumatismos vértebro-medulares são uma das lesões de toda a patologia traumática ortopédica mais temidas pelas suas possíveis consequências, sendo a imagem da cadeira de rodas um dos horrores que lhes estão associados.
           A coluna é constituída por um conjunto de ossos empilhados, distribuídos entre sete vértebras cervicais, doze vértebras dorsais, cinco vértebras lombares, sacro e cóccix, entre as quais se interpõe uma estrutura fibrosa, o disco intervertebral.
           Para além da sua função de ser um sistema estrutural de ligação entre os membros inferiores e a parte superior do organismo, a região posterior das vértebras compõe um canal que serve de abrigo à espinal medula, um longo cordão fibroso com a função equivalente a uma importante auto-estrada que liga o cérebro às várias estruturas do corpo humano. Ao longo da coluna vertebral vão emergindo sucessivamente ramificações que dão origem aos nervos periféricos, estradas principais emergentes da medula e que se vão progressivamente ramificando para chegar a todos os extremos do organismo.
           A gravidade das lesões da coluna não estão tanto relacionadas com a lesão da estrutura óssea, mas sim com a extensão do lesão neurológica, ou com a possibilidade desta acontecer em virtude da falta estabilidade da lesão vertebral.
          Felizmente a coluna é uma estrutura resistente e a maior parte das lesões que atingem a região não passam de contusões das partes moles circundantes ou estiramentos musculares, os quais, para além da incapacidade natural nos dias ou semanas que se seguem ao traumatismo, não provocam sequelas significativas.
          Como já foi referido, a estrutura óssea elementar da coluna é a vértebra, formada por um cilindro achatado, o corpo vertebral a que se acrescenta um anel ósseo na sua região posterior envolvendo a medula espinal, no qual se encontra relativamente protegida das agressões externas. Para além destas estruturas, as vértebra têm ainda umas saliências, as apófises, que se destinam à articulação entre elas ou à inserção de músculos e ligamentos.
          Classicamente, para efeitos de trauma, a vértebra é estruturalmente dividida em três colunas, a anterior, a média e a posterior.
          Os traumatismos da coluna ocorrem geralmente por quedas em altura ou na sequência de acidentes de viação, acidentes desportivos, choques eléctricos, soterramentos ou agressões.
          A secção da vértebra atingida mais frequentemente é o corpo vertebral, sendo a lesão mais frequente o achatamento da parte anterior do corpo vertebral. Para além dos ossos também outras estruturas como os ligamentos ou os discos intervertebrais podem ser atingidos.
         As fracturas podem ter vários padrões, associadas a maior ou menor instabilidade, com maior ou menor possibilidade de condicionarem lesões neurológicas, as quais têm geralmente carácter definitivo, podendo variar desde simples e pouco pronunciados achatamentos do corpo vertebral a lesões cominutivas, isto é em vários fragmentos, atingindo as três colunas estruturais.
         Uma fractura com ligeiro achatamento pode ser tratada de forma conservadora, recorrendo a ortóteses, aparelhos ortopédicos, que se destinam a manter a coluna em hiperextensão, evitando movimentos que poderiam levar a um agravamento da lesão.
         Uma fractura instável necessita de um tratamento cirúrgico capaz de promover a desejada estabilização através de implantes metálicos que são colocados nas vértebras.
         A gravidade dos traumatismos vertebro-medulares está directamente relacionada com o grau de atingimento da estrutura nobre que a coluna aloja na sua parte posterior, a medula espinal. Quanto mais proximal, ou seja mais perto do cérebro for a lesão, mais extensas e graves serão as sequelas.
         As consequências da lesão neurológica variam consoante o seu nível. Uma lesão completa a nível da coluna cervical provocará a interrupção da transmissão nervosa a esse nível provocando sequelas logo abaixo do pescoço, resultando na tetraplegia ou seja paralisia dos membros superiores e inferiores. Já uma lesão completa a nível lombar só provocará uma lesão dos membros inferiores, a paraplegia, sendo de salientar que um traumatismo a um dado nível da coluna provoca lesões em todos os níveis que estão abaixo e nunca acima da lesão.
          Os sintomas variam consoante o tipo e a gravidade do traumatismo, desde simples dor local, mais ou menos forte a alterações neurológicas como alterações de sensibilidade diminuição da força muscular ou mesmo paralisia e incontinência de esfíncteres.
          Quando há lesões neurológicas, a avaliação da distribuição topográfica cutânea da sensibilidade, os dermátomos, permite-nos estimar o nível da lesão.
          Quando há uma suspeita fundamentada de fractura o traumatizado deve ser imobilizado até ser devidamente avaliado clinicamente, devendo sempre ser evitada a mobilização desnecessária.
          O exame inicial é o RX que só nos mostra as lesões ósseas. Para melhor caracterização das fracturas e avaliar a sua gravidade é por vezes necessário recorrer à TAC ou à Ressonância Magnética, estando este último exame mais indicado no caso de existirem lesões neurológicas associadas.
         O tratamento, como já foi dito, pode variar desde o simples repouso e alívio dos sintomas até à imobilização com coletes específicos ou à estabilização cirúrgica das fracturas.
         O prognóstico depende da gravidade das lesões neurológicas associadas, se bem que mesmo nos casos mais simples seja vulgar uma dor residual que se prolonga no tempo.

terça-feira, 31 de julho de 2012

Medicina, Médicos e Sistemas de Saúde


            O nosso país viveu uma greve dos médicos com significativa adesão mas que muito provavelmente uma significativa parte da população não compreendeu, a qual apresentava como bandeira a defesa do Serviço Nacional de Saúde.
            A greve é um direito e uma forma de luta prevista na constituição visando normalmente a melhoria das condições de trabalho do grupo profissional em causa e também neste caso a principal reivindicação era a defesa das carreiras médicas.
            Assistimos actualmente a uma industrialização da medicina, à instituição duma medicina “low-cost” com a consequente desvalorização do acto médico, num processo contínuo e progressivo de “operarialização” da medicina, esquecendo que o único funcionário que assume a responsabilidade de fazer um diagnóstico e instituir um tratamento é o médico, pelo que fazer um sistema de saúde contra este grupo profissional não me parece fazer muito bem à saúde.
            O exercício da medicina é actualmente uma actividade complexa exigindo um leque extenso de conhecimentos científicos amadurecidos pela prática clínica de modo a conseguir descodificar um conjunto de sinais e sintomas no sentido de construir um diagnóstico capaz de alicerçar um tratamento visando minorar o sofrimento do doente, tarefa delicada e de grande responsabilidade em que qualquer passo em falso pode originar resultados catastróficos.
            O saber morre connosco e se não houver mecanismo da sua transmissão intergeracional ele perde-se fatalmente no horizonte do tempo. Defender as carreiras médicas é garantir que o saber acumulado ao longo de milhares de anos não se perca e seja transmitido às novas gerações de modo a ser ampliado e ele próprio fonte de novo saber.
            O direito à assistência médica está consagrado na Declaração Universal dos Direitos Humanos, nomeadamente no seu artigo 25, sendo um dos pilares dos estados como os entendemos hoje, democráticos.
            O direito à assistência médica, tal como qualquer outro direito não é inato, sendo antes fruto de conquistas muitas vezes arrancadas a ferros e com sacrifício de vidas humanas, variando de acordo com a comunidade geográfica e social a que diz respeito e com os valores vigentes na época.
           A Medicina com carácter científico começou na Grécia com Hipócrates. Galeno pegou nos seus ensinamentos e deu-lhes continuidade no princípio da era Cristã. Na Idade Média curar doenças era tarefa das ordens religiosas, o que fazia algum sentido pois nessa época era atribuída essencialmente causa divina às doenças, sendo desse tempo as leprosarias.
          Os hospitais surgiram na continuidade de estruturas de apoio aos peregrinos sendo nesse tempo a pequena cirurgia praticada por barbeiros, uma vez que as ferramentas utilizadas serviam para as duas funções. No virar do primeiro milénio os escritos de Hipócrates ganharam de novo valor e a Medicina começou a ser estudada nas Universidades. Foi com o Renascimento que a Medicina ganhou uma dimensão superior e são dessa época muitos nomes que contribuíram para o seu grande avanço.
         No século XIX a Medicina entrou definitivamente no domínio científico. A assistência médica era até então um privilégio reservado essencialmente às classes mais abastadas pois tinha de ser paga pelos próprios, podendo ainda ter acesso a ela através de associações com carácter mutualista, as quais formavam um sistema de protecção social básico dos membros participantes que se entreajudavam em situações de doença, invalidez, viuvez desemprego, orfandade, ou então dependente da acção de beneficência das ordens religiosas, no caso dos mais necessitados.
         A revolução industrial e a percepção dos elevados custos associados à doença dos trabalhadores, ou à sua morte que originavam importantes perdas de produtividade estiveram na base dos primeiros sistemas de previdência.
O primeiro serviço de Saúde começou na Alemanha com Bismarck, com os seguros de doença obrigatórios para os trabalhadores por contra de outrem, criando um modelo que ainda vigora, sobre outras formas, em determinados países.
         No pós-guerra foi instituído na Grã-Bretanha o modelo idealizado por Beveridge que levou ao serviço nacional de saúde daquele país onde o financiamento deixou de ser feito baseado em seguros para passar a ser feito directamente através do orçamento geral do estado por via dos impostos.
        O modelo britânico foi adoptado após o 25 de Abril para criar o nosso Serviço Nacional de Saúde, actualmente de baixo de fogo devido aos cortes que o pretendem racionalizar para em seu nome o racionar no seu acesso aos cidadãos.
        O encapotado racionamento do SNS tem duas vertentes, a do equilíbrio das contas públicas e a da criação dum novo ramo de negócio que muito interessa ao sector financeiro que nele investiu milhões. É muito diferente aplicar uma política de saúde baseada no interesse público ou no interesse financeiro, se bem que ambas tenham de estar apoiadas numa lógica de custo-benefício de modo a garantir a sua sustentabilidade.

domingo, 6 de maio de 2012

Hallux Valgus


            O Hallux Valgus é um tipo de patologia que afecta o primeiro dedo do pé, que vulgarmente é conhecido por joanete.
Normalmente o primeiro dedo do pé encontra-se alinhado com o primeiro metatársico. Nesta patologia há um desvio para o lado externo do hálux a nível da articulação metatarso-falângica, ou seja na base do dedo, associado a um movimento de rotação. Nos casos mais graves há mesmo um cavalgamento do primeiro sobre o segundo dedo.
            Este desvio externo, a que frequentemente está associada uma angulação relativa a um desvio interno do primeiro metatársico, provoca uma proeminência óssea dolorosa, a qual mais não é que o vértice do ângulo entre os dois ossos que compõem a articulação metatarso-falângica do primeiro raio do pé.
             Esta patologia é mais frequente nas pessoas com o primeiro dedo mais comprido do que o segundo, correspondendo ao chamado pé egípcio, sendo a sua incidência cerca de 10 vezes superior no sexo feminino. Um dos factores que pode estar na génese desta patologia é o uso prolongado de calçado inadequado. Outros factores como a artrite reumatóide, a hereditariedade, alterações neurológicas e outras doenças podem estar associados a este tipo de patologia, a qual se desenvolve quase sempre duma forma lenta e progressiva.
            O paciente procura o médico geralmente pela dor e pela deformidade, existindo por vezes um processo inflamatório franco duma bolsa serosa localizada junto à proeminência óssea atrás descrita, desencadeando a chamada bursite.
            O diagnóstico é clínico, complementado pelo RX, o qual deve ser efectuado em carga, isto é de pé, de modo a permitir a caracterização da deformidade, tendo por base o aumento dos ângulos quer da articulação metatarso-falângica, quer entre o primeiro e o segundo metatarso, bem como identificar a presença de artrose a nível da articulação metatarso-falângica.
            O tratamento desta patologia é variado, sendo que nas deformidades discretas basta modificar o tipo de calçado, ou usar espaçadores interdigitais em silicone, enquanto nos casos mais severos poderá estar indicado o tratamento cirúrgico.
            A técnica cirúrgica varia em função da idade, tipo de pé, grau de deformidade, presença ou não de artrose a nível da articulação metatarso-falângica e deformidades associadas, existindo inúmeras técnicas descritas, sendo necessário escolher a mais adequada em função do caso clínico e da experiência do cirurgião.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

A acção municipal no domínio da Saúde


            A Saúde deve ser entendida como um modelo complexo que ultrapassa um conceito ligado exclusivamente à ciência médica, para ser entendida como algo multifactorial, transversal à sociedade, onde participam múltiplas variáveis, devendo ser considerada no contexto de um todo envolvendo o espaço social e cultural que rodeia o cidadão. É essencialmente nessa envolvência que interfere com os estados de saúde do individuo onde deve agir a autarquia, em conjunto com as IPSS, os Cuidados Primário de Saúde, a Saúde Pública e a até com as Escolas promovendo a Educação para a Saúde.
            O acesso aos cuidados de saúde e a sua qualidade é um dos temas que mais preocupa o cidadão, pois a doença é um acontecimento de carácter imprevisto que pode suceder a qualquer um de nós, sendo o tema da Saúde um dos valores que fazem parte da Democracia como a entendemos nas sociedades modernas. A presente crise económica corrói o Estado Social, acentua as desigualdades entre os extremos da pirâmide social, acabando por ter um impacto em todos os campos que em conjunto determinam o nível de cuidados de saúde da comunidade.
            A Autarquia tem um papel importante na promoção da saúde como garante do bem-estar da comunidade, pois apesar de não ser a sua função nem ter competências para exercer actividade clínica, deve ter a preocupação em promover a acessibilidade universal dos seus munícipes a cuidados de saúde de qualidade, vigiar a sua implementação real e exigir por parte do poder central o respeito pelos direitos constitucionais dos munícipes, independentemente das opções estratégicas do Ministério da Saúde quanto à organização ou gestão das unidades prestadoras de cuidados. Deve promover uma definição clara da actividade assistencial das diversas entidades - Centos de Saúde, Hospitais, etc. - e referenciação atempada e adequada das situações que estão fora do âmbito da sua actuação, de modo a que os utentes não sejam prejudicados por não viverem numa grande metrópole.
            A autarquia deve conhecer com rigor os activos disponíveis, as suas potencialidades e limitações, devendo para isso fazer um exaustivo levantamento das necessidades, bem como da oferta neste domínio em função da sua população, tendo em conta a utilização racional dos recursos e estudar de entre as várias equações possíveis a que melhor serve os munícipes. Deve contribuir quer como agente fiscalizador quer como agente organizador para a sua implementação, procurando contribuir para coordenar o acesso aos diferentes serviços em função das necessidades, tendo um papel activo no esclarecimento do utente sobre qual o serviço que deve recorrer, por ser o que mais se adequa às suas necessidades, pois isso acabará por levar a uma maior sensação de satisfação por parte do utilizador.
            A autarquia pode promover a prestação de cuidados de saúde actuando em factores que determinam toda a envolvência do indivíduo, desde o meio ambiente, a habitação, a alimentação, o emprego, abastecimento de água, o saneamento, a educação, as vias de comunicação, as campanhas de vacinação e todas as condicionantes que rodeiam o bem-estar sanitário do cidadão, promovendo a melhoria de todos os factores que para ela contribuem indirectamente, no sentido de informar e educar o cidadão para uma correcta utilização dos recursos, de molde a ser também ele um instrumento da prevenção da doença.
As autarquias podem dotar-se dum conjunto de ferramentas de que podem fazer uso, nomeadamente a criação dum Conselho Municipal de Saúde, uma entidade de âmbito municipal, com funções de natureza consultiva, de articulação, informação e cooperação, que funcione como apoio à Câmara Municipal para tratar os assuntos relacionados com a Saúde no concelho, sendo uma das sua atribuições a elaboração e a fiscalização da execução dum Plano Municipal de Saúde, tendo em conta os recursos existentes, as suas capacidades e a sua real utilização.
Os cuidados primários e a prevenção são um dos campos a que a autarquia deve prestar mais atenção pois além de melhorarem a qualidade de vida dos munícipes contribuem para diminuição futura das despesas em tratamento, contribuindo para a sustentabilidade do SNS.
Outro dos campos em que a autarquia pode e deve ter um papel determinante é a monitorização e o apoio a nível dos cuidados pós-hospitalares, nomeadamente apoio aos Cuidados Continuados.
            Existe no nosso país a Rede Portuguesa de Cidades Saudáveis, a qual é uma Associação de Municípios que tem como Missão apoiar a divulgação, implementação e desenvolvimento do Projecto Cidades Saudáveis nos municípios que pretendam assumir a promoção da saúde como uma prioridade da agenda dos decisores políticos.  Esta rede foi constituída formalmente em 1997, desenvolvendo a sua intervenção tendo por base apoiar e promover a definição de estratégias locais susceptíveis de favorecer a obtenção de ganhos em saúde, promover e intensificar a cooperação e a comunicação entre os Municípios que integram a Rede bem como entre as restantes Redes Nacionais participantes no Projecto Cidades Saudáveis da Organização Mundial de Saúde (OMS) e, finalmente, divulgar o Projecto Cidades Saudáveis, estimulando e apoiando a adesão de novos Municípios.

domingo, 15 de abril de 2012

Tendinites


 A tendinite é uma patologia do sistema músculo-esquelético que traduz um processo inflamatório afectando um tendão ou um grupo de tendões, causando dor e impotência funcional na região atingida.
O nosso organismo é construído sobre um esqueleto com segmentos móveis, que são as articulações, pontos de junção entre os vários ossos, cuja coesão é mantida por estruturas peri-articulares como os ligamento e a cápsula articular. O movimento dos vários segmentos do corpo é feito através da contracção muscular. Os músculos inserem-se em proeminências ósseas através de umas expansões fibrosas que constituem os tendões. Com a contracção muscular, o tendão tracciona o osso e dá origem ao movimento.
Quando o músculo e o tendão são muito solicitados, por exemplo em tarefas repetitivas, origina-se um processo inflamatório do tendão e da sua bainha, provocando dores, que na fase inicial são associadas á execução da tarefa. Com a manutenção da actividade o quadro acentua-se e a dor passa a estar presente mesmo em repouso podendo inclusivamente perturbar o sono.
Também traumatismos, infecções, doenças reumatológicas, doenças hormonais, doenças do sistema imunitário, distúrbios metabólicos, neuropatias e processos degenerativos das articulações podem ser factores associados a este tipo de patologia.
Como exemplos destas patologias podemos referir a epicondilite no cotovelo, a tendinite de De Quervain no punho, tendinites a nível do ombro (tendinite do Bicípite, Supra-espinhoso e outras), a tendinite do Tendão Rotuliano e a tendinite do Tendão de Aquiles.
O diagnóstico é essencialmente clínico, pois o RX é negativo, pois apenas permitir ver as estruturas radioopacas, como os ossos. A ecografia pode ajudar a confirmar o diagnóstico, sendo a Ressonância Magnética o exame mais preciso, mas que raramente se justifica dentro do princípio dum uso racional dos meios complementares de diagnóstico
             Clinicamente o doente apresenta dor, impotência funcional e sinais inflamatórios na região atingida.
O tratamento é geralmente sintomático, passando pela imobilização, anti-inflamatórios, relaxantes musculares, analgésicos, podendo ser útil a Fisioterapia e em certos casos infiltrações locais dos pontos doloroso com corticóides. Em casos excepcionais poderá eventualmente estar indicado o tratamento cirúrgico.
Como em todas as doenças, melhor maneira de tratar este grupo de patologias é a prevenção, corrigindo posturas inadequadas e controlando os factores que as podem desencadear. 

domingo, 18 de março de 2012

A Entorse

           Uma das lesões traumáticas mais frequente na prática ortopédica é a entorse.

A entorse é uma lesão que atinge os ligamentos, os quais são as estruturas fibrosas que mantêm a estabilidade e coesão da articulação, unindo os diversos ossos que as compõe.
Este tipo de lesões pode acontecer em qualquer articulação, sendo contudo mais frequentes a nível do tornozelo, no qual é mais frequentemente atingido o feixe perónio-astragalino anterior que faz parte do ligamento lateral externo.
O mecanismo de lesão é geralmente um movimento brusco ou de torção da articulação atingida.
O diagnóstico de entorse inclui um vasto leque de patologias que varia desde uma simples distensão ligamentar (grau I) até uma rotura completa (grau III), passando pela rotura parcial (grau II), com prognósticos e indicações terapêuticas diferentes.
O diagnóstico é essencialmente clínico, apresentando o doente geralmente um quadro de dor, edema e impotência funcional que surge logo após o traumatismo inicial e muitas vezes diminui para se instalar de novo progressivamente, ao contrário do que acontece nas fracturas, nas quais estas queixas surgem de imediato com o traumatismo e se mantém relativamente constantes. Existe dor à digito-pressão (palpação) do ligamento atingido, devendo ser verificada a estabilidade da articulação. O RX não apresenta qualquer alteração pois apenas permite visualizar as estruturas rádio-opacas - como os ossos - sendo transparentes ao RX todas as estruturas ligamentares, tendinosas musculares ou outras, servindo este exame apenas para excluir fracturas. Em certos casos poderá estar indicado o estudo complementar, sendo o exame que dá melhor acuidade diagnóstica a Ressonância Magnética, podendo contudo ter alguma utilidade outros exames menos diferenciados mas muito mais económicos, como a ecografia ou a TAC.
O tratamento é essencialmente o repouso, a descarga (andar com apoio de canadianas), no caso dos membros inferiores, o gelo numa fase inicial e os anti-inflamatórios, podendo nos casos mais graves necessitar de imobilização, sendo que, nos casos extremos, com rotura completa, possa eventualmente ser necessário o tratamento cirúrgico.
Durante a fase de recuperação poderá ter alguma utilidade a Fisioterapia, a valorizar conforme o caso.
Estas lesões podem eventualmente estar associadas a fracturas e no caso do joelho a lesões meniscais, pelo que nestes casos o seu tratamento e prognóstico dependerá das lesões associadas.

sábado, 17 de março de 2012

Fracturas distais do Rádio

             As fracturas distais do rádio são um dos traumatismos mais frequentes em Ortopedia.
            Classicamente estas ocorrem porque o corpo, após uma queda tenta proteger as parte mais nobres como a cabeça colocando a mão para amortecer o traumatismo.
        Dependendo da posição da mão na altura do impacto, e também dependendo do impacto podemos ter fracturas com desvio dorsal, fracturas com desvio palmar, fracturas que atingem apenas uma das faces da superfície articular do rádio, ou fracturas parciais do rádio, como as da estilóide radial.
         As fracturas podem ser fechadas, mais frequentes, ou ser expostas, com segmentos ósseos que furam a pele e se exteriorizam. Podem ser de traço simples ou cominutivas, isto é com vários fragmentos.
           A forma como o osso parte, vai-nos permitir classificar a fractura e orientar o tratamento.
           De todas as fracturas distais do rádio, a mais frequente é a fractura
 de Colles, geralmente produzidas por traumatismo indirecto de queda sobre a mão, em extensão. Se a queda for com a mão em flexão temos as fracturas de Smith. As fracturas com atingimento parcial da superfície distal articular são conhecidas como fracturas de Barton. Estes nomes referem-se aos médicos que as descreveram. Na criança surgem dois tipos de fractura que lhe são exclusivos, a fractura em ramo verde e o descolamento epifisário
A Fractura de Colles, a mais frequente, clinicamente a apresenta uma deformidade com um desvio dorsal que dá ao membro superior o aspecto de um garfo.
São fracturas frequentes no idoso, com massa óssea reduzida pela osteoporose.
O tratamento é maioritariamente conservador, destinado às fracturas estáveis procedendo-se à manipulação, redução e imobilização gessada.
No caso das fracturas instáveis é necessário o tratamento cirúrgico com redução e fixação da fractura com fios metálicos, placas ou parafusos

domingo, 11 de março de 2012

Fracturas do Colo do Fémur/ Região Trocantérica


            As fracturas proximais do fémur são lesões traumáticas relativamente frequentes que ocorrem preferencialmente em pessoas de idade avançada, com estrutura óssea fragilizada pela osteoporose. O fémur é o maior osso do organismo e pode ser dividido em três segmentos, o proximal, que faz parte da anca onde se inclui a cabeça do fémur, o colo do fémur e a região trocantérica, a região média, a diáfise do fémur que faz parte da coxa e a região distal, que faz parte do joelho. A maior parte das fracturas ocorrem por quedas da própria altura, sendo mais frequentes o sexo feminino. Nos indivíduos mais jovem as fracturas são normalmente provocadas por traumatismos de alta energia, como acidentes de viação ou quedas de altura elevada, estando frequentemente associadas a outros traumatismos graves.
            O doente vítima deste tipo de traumatismo entra no Serviço de Urgência acamado, não conseguindo andar após uma queda, por não conseguir ficar de pé. Refere normalmente dor na zona proximal do fémur, limitação da mobilidade e o membro atingido encontra-se frequentemente encurtado e rodado externamente.
            O diagnóstico é confirmado pelo RX que nos permite também caracterizar a fractura quanto à sua localização - colo do fémur ou região trocantérica - e quanto ao tipo de fractura permitindo a sua classificação, de modo a determinar o tratamento adequado.
            A articulação coxo-femural é composta pelo fémur, que contribui com uma porção esférica, a cabeça do fémur a qual se move numa cavidade côncava da bacia, o acetábulo.
            As fracturas proximais do fémur podem ocorrer logo abaixo da cabeça, no istmo que a une com a cabeça, o colo do fémur, ou na zona logo a seguir, a região trocantérica
            A cabeça do fémur é uma zona com pouca circulação e uma fractura na região do colo do fémur tem poucas probabilidades de consolidar, o que influencia a decisão terapêutica. Já a região trocantérica é mais vascularizada, facilitando a consolidação da fractura.
            O tratamento deste tipo de lesões é cirúrgico na maioria dos casos, pois a alternativa, e só no caso das fracturas trocantéricas, é manter o doente acamado com uma tracção no membro afectado até à consolidação da fractura, sendo certo que quanto mais tempo o paciente permanece acamado, maiores são as probabilidades de ter complicações como trombose venosa profunda, embolia pulmonar, além do elevado rico de fazer escaras de decúbito.
            O tratamento varia desde a redução cirúrgica e osteossíntese, isto é fixação com implantes que vão manter a fractura alinhada e estável até à sua consolidação, até a artroplastia, isto é, a substituição da região proximal do fémur por uma prótese envolvendo quer apenas o fémur (parcial) ou toda a articulação (total).
            O tratamento deve ser complementado com reabilitação funcional, de modo a recuperar o melhor possível a lesão.
            É preciso ter sempre presente que independentemente do tratamento, atendendo à população atingida (idosos) são sempre fracturas com considerável mortalidade e morbilidade

domingo, 4 de março de 2012

Síndrome do Túnel Cárpico

Síndrome do Túnel Cárpico

por Amigos do Hospital de Barcelos a Domingo, 4 de Março de 2012 às 20:57 ·
          
            O chamado Síndrome do Túnel Cárpico, também conhecido como Síndrome do Canal Cárpico, é uma patologia relativamente frequente e que resulta da compressão do nervo Mediano, na passagem, junto com outras estruturas num canal estreito chamado Túnel Cárpico, o qual é delimitado anteriormente pelo ligamento anular do carpo.
           Os nervos são ramos progressivamente mais finos que partem dum tronco central, a Espinal-medula, saindo ao longo da coluna para fazer a ligação entre o Cérebro e todo o organismo, sendo o nervo Mediano um deles, responsável pela enervação de uma parte da palma da mão, principalmente os dedos polegar, indicador, anelar e médio. As queixas referem-se essencialmente a estes dedos, podendo contudo existir uma irradiação da dor para regiões mais proximais do membro superior (antebraço e braço).
            É a mais frequente patologia de compressão nervosa periférica, tem carácter progressivo e é mais frequente no sexo feminino. Esta patologia causa uma sensação de desconforto na mão, dor, sensação de formigueiro (parestesias) e diminuição da força muscular, nomeadamente na capacidade se segurar pequenos objectos. As queixas têm um predomínio nocturno e o doente acorda frequentemente com a sensação de ter as mãos adormecidas, levando-o a mobilizar as mãos para tentar aliviar os sintomas.
            Existe uma multiplicidade de causas que podem desencadear a doença nas quais se incluem o trabalho manual com movimentos repetidos, sequelas pós traumáticas, alterações hormonais como menopausa e gravidez, podendo estar associada a certas doenças como a Diabetes, a Artrite Reumatóide, doenças da Tiróide e mesmo a causas desconhecidas.
            Existem duas manobras que nos orientam para o diagnóstico desta patologia, a manobra de Tinel, que é a percussão do nervo mediano na região da sua passagem pelo túnel e o teste de Phalen, no qual pedimos ao doente que faça a flexão de ambos punhos empurrando o dorso das mãos uma contra a outra, os quais reproduzem as queixas referidas pelo doente.
            A confirmação diagnóstica é dada pela Electromiografia.
            O tratamento conservador é variado, podendo ser feito com anti inflamatórios, imobilização e até injecção de corticóides. A maioria das pessoas responde ao tratamento conservador, sendo o tratamento cirúrgico reservado para os casos refractários ao tratamento clínico. O tratamento cirúrgico consiste numa mini incisão que abre o ligamento anular do carpo e assim promove a descompressão do nervo atingido.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Uma apresentação do Hospital de Barcelos

Uma apresentação do Hospital de Barcelos


            Como nota introdutória, penso que é importante os cidadãos servidos pelo Hospital de Barcelos conhecerem melhor a instituição que os serve, saberem qual o seu património histórico, quais os seus pontos fortes e quais as suas limitações.
            Os dados desta apresentação foram recolhidos através de uma pesquisa em portais oficiais, abertos e disponíveis a quem os quiser consultar, referenciados no final. Peço desde já desculpa pelas eventuais omissões e imprecisões que possa conter e que certamente corrigirei com o vosso apoio.
A história do Hospital de Barcelos está há muito ligada à história da cidade. Desde a gafaria medieval à entrada de um dos principais pontos de passagem do caminho de Santiago até às actuais instalações, o passado do hospital acompanha o evoluir da cidade.
A gafaria, um centro onde eram recolhidos os leprosos, foi construída junto às portas da cidade, perto de uma antiga passagem a vau sobre o rio Cávado, cerca do século XIII. À gafaria sucedeu o Hospital do Espírito Santo, construído na sequência da ponte medieval, ao que havia de suceder no século XIX parte do edifício do extinto Convento dos Capuchos, entregue então à Santa Casa de Misericórdia, situado perto do centro da cidade, junto ao Campo da República, também conhecido pelo Campo da Feira.
As actuais instalações que formam o actual Hospital de Barcelos são compostas por um conjunto de três edifícios principais e dois edifícios anexos. Partindo de poente para nascente, ou seja partindo do Campo da República, temos um primeiro edifício com três pisos, onde funciona no piso inferior o Serviço de Urgência, o Serviço de Imagiologia (RX) e a admissão para a Consulta Externa. No segundo piso funcionam a Consulta Externa, o Serviço Social, o Hospital de Dia, a Administração e ainda a Esterilização. Finalmente no terceiro piso funcionam serviços de apoio como a Informática.
O edifício integrado no antigo convento está unido através de um corredor a outro mais recente, inaugurado em 1970, com seis pisos. Neste bloco, no primeiro piso funciona a recepção, o laboratório, parte do Serviço de Pediatria e ainda o refeitório. No segundo piso funciona a parte restante do Serviço de Pediatria, o Bloco Operatório, o Serviço de Anestesia e a Cirurgia de Ambulatório, criada em 2008. No terceiro piso funciona o internamento das especialidades cirúrgicas com 37 camas, onde são internados os doentes para tratamento cirúrgico. No quarto piso funciona a Serviço de Medicina Interna com 41 camas. O quinto piso funciona como internamento das especialidades cirúrgicas com 34 camas, onde são internados os doentes que não carecem de tratamento cirúrgico e onde por vezes são também internados doentes pelo Serviço de Medicina Interna. No sexto piso funciona o bar e a central telefónica.
O último dos edifícios principais foi construído nos anos noventa e nele funcionam a Farmácia, o Aprovisionamento no piso inferior e os serviços administrativos no piso superior.
Quanto à sua actividade assistencial, o Hospital de Barcelos, Hospital de Santa Maria Maior, E.P.E serve essencialmente a população dos concelhos de Barcelos e Esposende.
As principais portas de entrada para o atendimento são o Serviço de Urgência e a Consulta Externa, de onde derivam os doentes para tratamento ambulatório, para tratamento cirúrgico ou para outro tipo de tratamento que careça de internamento.
O nível da sua Urgência é Médico-Cirúrgica do tipo Geral, a qual recebe anualmente cerca de 90.000 utentes (88876 em 2009).
É um serviço que dispõe das valências básicas: Medicina Interna, Cirurgia Geral no período de 2ª Feira a Domingo das 00:00 - 00:00, Ortopedia no período de 2ª Feira a Domingo das 08:00 - 20/22:00 (09:00 - 22:00)*, Anestesiologia no período de 2ª Feira a Sábado (2ª Feira a Dom)* das 08:00 - 21:00, Imagiologia e Patologia Clínica no período de 2ª Feira a Domingo das 00:00 - 00:00.
Relativamente à Consulta Externa, a segunda grande porta de entrada do Hospital, efectua por ano cerca de 80.000 Consultas (77938 em 2009). É um serviço que dispõe das especialidades de Anestesiologia, Cirurgia Geral, Ginecologia/Obstetrícia, Medicina Interna, Oftalmologia, Ortopedia, Otorrinolaringologia, Pediatria, Pneumologia e ainda Psicologia e Nutrição.
O Bloco operatório tem duas salas em funcionamento e nele são realizadas por ano cerca de 5.000 intervenções cirúrgicas (4845 em 2009), sendo a maioria delas realizadas em regime de ambulatório (2689 em 2009).
Relativamente à sua organização, segundo o organograma disponível na sua página oficial, o Hospital de Barcelos está dividido em Serviços de Gestão, em Serviços de Prestação de Cuidados e Serviços de Suporte à Prestação de Cuidados, dispondo ainda de Órgãos de Apoio Técnico.
Relativamente aos Serviços de Prestação de Cuidados, de acordo com a mesma fonte, eles estão organizados em Serviço de Ginecologia/Obstetrícia, Serviço de Pediatria, Serviço de Medicina Interna e Especialidades Médicas (Pneumologia), Serviço de Cirurgia (incluindo Oftalmologia e Otorrinolaringologia), Serviço de Ortopedia, Bloco Operatório, Serviço de Anestesiologia, Serviço de Urgência, Consulta Externa, Cirurgia de Ambulatório e VMER.


*Dados do Portal da Saúde

Fontes:
Página oficial do HSMM, E.P.E : http://www.hbarcelos.min-saude.pt
Santa Casa de Misericórdia de Barcelos: http://www.scmb.maisbarcelos.pt
Portal da Saúde: http://www.portaldasaude.pt

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Conceitos de Orto-Traumatologia


Conceitos de Orto-Traumatologia

por Amigos do Hospital de Barcelos, quarta, 8 de Fevereiro de 2012 às 11:26 ·
            A Orto-Traumatologia abarca as lesões ósseas e tendinosas dos membros superiores, inferiores, bacia e coluna. Outros tipos de traumatismos que atingem outros ossos são orientados por especialidades como por exemplo a Cirurgia Geral, para os traumatismos abdominais e a Neurocirurgia para os traumatismos cranianos.
            Merecedor de particular atenção é o grande politraumatizado o qual pode ser vítima de fracturas ósseas complexas, com perdas sanguíneas importantes.
            Os ossos quando sofrem traumatismo e “partem” não o fazem sempre da mesma forma e o tipo de lesão varia conforme o tipo de traumatismo e a intensidade desse mesmo traumatismo. As fracturas não são todas iguais Para um correcto tratamento é necessário definir bem o tipo de fractura, pois fracturas diferentes têm diferentes indicações de tratamento, que pode variar de uma simples imobilização e tratamento sintomático até à necessidade de redução e fixação cirúrgica.
            As fracturas podem ser caracterizadas de várias maneiras e assim diferenciamos logo dois grandes grupos, as fracturas “fechadas", isto é, houve uma fractura mas sem comunicação com a parte externa do corpo e a fracturas “expostas”, que ocorrem quando a fractura tem alguma comunicação com o meio exterior.
            Dependendo do tipo podem ser simples, com um traço único de fractura ou cominutivas, isto é em vários fragmentos.
            As fracturas podem ocorrer na zona média do osso ou na sua extremidade, envolvendo articulações, sendo portanto fracturas articulares.
            As fracturas podem ser estáveis nas quais depois de reduzidas basta uma simples imobilização, ou instáveis, isto é com tendência a desviar e nesse caso o tratamento será necessariamente mais agressivo.
            As fracturas nas crianças adquirem um comportamento particular e uma vez que o osso está envolvido por um densa camada peri-óssea, fazendo a chamada fractura em ramo verde. Outro tipo de fracturas na criança que podem ter consequências imprevisíveis a longo prazo são as fracturas envolvendo a cartilagem de crescimento, os chamados descolamentos epifisários que também podem ser de vários tipos e requerer tratamentos pouco ou muito agressivos
            Além dos tipos referidos podemos ainda ter fracturas associadas a luxações e fracturas patológicas, as fracturas que acontecem em ossos fragilizados quer por osteoporose quer por lesões metastáticas associadas a patologia cancerígena.
            Como em tudo na Medicina, para o diagnóstico das fracturas é importante uma boa História Clínica, que identifique a natureza do acidente, a intensidade do traumatismo, a localização do traumatismo, a localização e intensidade da dor e a limitação funcional.
            Colhidas as primeiras informações que nos orientam para a possível lesão e gravidade do traumatismo, prosseguimos com o exame clínico e se necessário recorremos ao auxílio de exames complementares de diagnóstico, de modo a caracterizar perfeitamente a lesão para poder programar o seu tratamento adequado.
            Para além do osso, outras estruturas podem ser lesadas na articulação, sendo as mais atingidas os ligamentos, os quais são bandas fibrosas que reforçam a coesão da articulação mantendo as peças ósseas unidas. Um esforço excessivo sobre as estruturas ligamentares provoca a chamada entorse. Consoante a violência do traumatismo, a entorse pode variar desde uma simples distensão do ligamento até uma rotura completa, com implicações terapêuticas diferentes.
            O tipo de patologia traumática varia conforme a idade, sendo que no idoso são mais frequentes as fracturas distais do rádio, as fracturas proximais do fémur (colo do fémur, maciço trocantérico e outras) e as fracturas dos corpos vertebrais.
            Já no indivíduo jovem são mais frequentes as lesões ligamentares do tornozelo e joelho, associadas frequentemente a acidentes desportivos, as fracturas de alta intensidade geralmente associadas a acidentes de viação e traumatismos da coluna graves.
            Relativamente à criança as lesões mais frequentes são a fractura em ramo verde, o descolamento epifisário e a pronação dolorosa (uma subluxação da tacícula radial em relação ao ligamento anular, resultante de uma tracção brusca sobre o membro superior da criança e geralmente de fácil redução)

Artrose (Osteoartrose)


Artrose (Osteoartrose)

por Amigos do Hospital de Barcelos, sábado, 4 de Fevereiro de 2012 às 11:11 ·
     A osteoartrose (também conhecida por artrose) é uma doença degenerativa de carácter progressivo que afecta as articulações, provocando incapacidade para o ser humano ao atingir órgãos importantes para a funcionalidade na vivência do dia-a-dia, como são a mão, o joelho, a anca, a coluna vertebral e o pé.
    O processo artrósico pode atingir todas as articulações, mas afecta principalmente os segmentos cervical e lombar da coluna vertebral, a articulação carpo-metacarpiana do primeiro dedo da mão (rizartrose), as articulações interfalângicas proximais e distais dos dedos da mão, a articulação coxo-femoral (coxartrose), a articulação do joelho (gonartrose) e a articulação metatarso-falângica do primeiro dedo do pé.
     Uma articulação é uma estrutura do organismo que mantém a coesão entre as peças ósseas que constituem o esqueleto permitindo algum grau de mobilidade entre elas. De acordo com o seu grau de mobilidade podem ser fixas (como as do crânio), semimóveis ou móveis (ombro, joelho, anca mãos, pés, etc.).
     Na zona da articulação, os ossos estão revestidos por uma camada fina e lisa que, entre outras funções, facilita a mobilidade dos ossos entre si. A zona da articulação entre as peças ósseas encontra-se encerrada dentro de uma bolsa relativamente estanque que contém um líquido viscoso que serve principalmente para permitir uma lubrificação da articulação, de modo a que as peças ósseas se possam mover sem grande atrito o qual constitui a cápsula articular. Em determinados pontos, esta cápsula articular encontra-se reforçada por faixas fibrosas resistentes que constituem os ligamentos.
     A osteoartrose afecta inicialmente a cartilagem articular mas com o evoluir da lesão atinge progressivamente outras estruturas. Como resposta à agressão, desencadeia-se um processo inflamatório e como a articulação é uma bolsa limitada por uma membrana, esta responde com um aumento do líquido sinovial intra-articular, ocasionando edema e derrame dentro da articulação o qual poderá ter interesse drenar não para curar a artrose, mas para aliviar uma tensão excessiva capaz de provocar dor intensa e sofrimento da articulação. A punção articular é um procedimento delicado e que só deve ser efectuado em situações de indicação precisa.
    Para além da membrana, o próprio osso anexo à articulação responde com uma maior formação de tecido ósseo aumentando a densidade de forma visível no RX (esclerose sub-condral),  progride com a criação de saliências ósseas denominadas osteófitos e com a própria diminuição da inter-linha articular, ou seja, do espaço entre os ossos envolvidos.
     Sendo uma doença degenerativa de carácter progressivo, atinge essencialmente pessoas duma faixa etária mais avançada, se bem que possa ser precipitada por factores constitucionais ou de origem traumática.
     Trata-se de uma das principais causas de incapacidade na pessoa idosa e revestindo-se de particular relevo o facto de estar associada, neste grupo etário, a outras doenças também incapacitantes.
     O diagnóstico tem por base a História Clínica, na qual se incluem as queixas que levam o doente a recorrer ao médico, como sejam a dor e a impotência funcional e um exame clínico que nos mostra as alterações provocadas pela doença, tais como a limitação da mobilidade, a deformidade ou sinais inflamatórios.
    A dor é essencialmente de carácter “mecânico”, ou seja, agrava-se com os movimentos. É frequente também uma “rigidez matinal”, traduzida no facto do doente sentir dificuldade em mobilizar o membro afectado no início da manhã.
     O diagnóstico clínico é complementado por um exame simples e acessível o qual nos permite o a confirmação da doença como é o RX. Para casos mais complexos em que este exame não fornece informação suficiente, podemos recorrer a outros exames mais diferenciados, nomeadamente a TAC.
      A osteoartrose é uma doença crónica e o seu tratamento é muito variado, limitando-se sobretudo a educar o doente, aliviar os sintomas, minimizar a incapacidade e evitar a progressão da doença.    
     Como armas terapêuticas podemos incluir numa fase inicial um tratamento “médico” (não cirúrgico) envolvendo a reabilitação - hidroterapia, tratamento termal, cinesioterapia, etc.- e terapêuticas farmacológicas - dirigidas aos sintomas e que podem ser de aplicação tópica, sistémica, intra-articular e peri-articular.
     Se o tratamento médico não for suficiente, devemos ponderar em casos bem estudados o tratamento cirúrgico. 
     O tratamento cirúrgico permite numa fase mais ou menos precoce corrigir desvios anatómicos ou anomalias articulares que impliquem sobrecarga da articulação atingida. Numa fase mais avançada, que se pretende tardia devido à vida limitada dos implantes, a substituição da articulação, no todo ou em parte, por uma prótese, desenvolvidas para várias articulações, mas com aplicação prática sobretudo para as grandes articulações do membro inferior, anca e joelho.

Lombalgias


Lombalgias

por Amigos do Hospital de Barcelos, domingo, 29 de Janeiro de 2012 às 09:43 ·
           As lombalgias fazem parte de um grupo de patologias denominado raquialgias, que como o nome indica consistem em dores reportadas à coluna vertebral e que inclui as lombalgias e as cervicalgias.
           A coluna vertebral é uma cadeia de ossos que estabelece uma ligação entre as partes superior e inferior do corpo. É constituída por 7 vertebras cervicais, 12 vértebras dorsais, cinco vértebras lombares, cinco vertebras unidas que formam o sacro e ainda pelo cóccix.
          As raquialgias podem ser de causa degenerativa, infecciosa, inflamatória, metabólica ou neoplásica. Os segmentos cervical e lombar são normalmente os mais afectados, por serem os segmentos mais móveis da coluna.
           As lombalgias são a causa mais comum de padecimento do foro ortopédico, sendo as queixas reumáticas mais frequentes e um dos principais motivos de incapacidade antes dos 45 anos de idade, estimando-se que cerca de 80% da população tem pelo menos um episódio ao longo da vida. Acompanham o homem desde os primórdios da História e estão relacionadas com a posição erecta pela contracção dos músculos espinhais.
           A dor pode variar desde uma dor contínua e incomodativa até uma dor súbita e aguda geralmente na sequência de um esforço ou traumatismo.
          A lombalgia aguda, surge subitamente e geralmente dura alguns dias ou semanas, cedendo as queixas antes de dois meses. A lombalgia é chamada crónica se a dor persiste por mais de três meses.
          São vários os factores que afectam o desenvolvimento de lombalgia entre os quais se salientam a profissão, a obesidade, o consumo de tabaco e o envelhecimento.
          Na maioria dos casos, a etiologia encontra-se ligada à deterioração degenerativa do disco intervertebral ou à alteração funcional das estruturas musculo-ligamentares.
          O disco intervertebral é uma estrutura fibrosa interposta entre as várias vértebras que compõem a coluna. Esta estrutura é composta na sua periferia pelo ânulo fibroso e no seu interior o núcleo pulposo.
           A deterioração degenerativa do disco intervertebral provoca uma reacção óssea das vértebras anexas que leva à formação de apófises ósseas designados osteófitos, os quais no RX apresentam uma aparência semelhante a bicos de papagaio, nome porque são conhecidas.
           Para além das alterações do disco intervertebral, todas as estruturas da coluna lombar podem contribuir para a lombalgia.
           Relativamente à patologia da coluna propriamente dita temos a considerar a hérnia discal, a estenose lombar, a espondilolistese e a artrose.
     Para além da patologia directamente relacionada, também podem ser causa de lombalgia a patologia do foro reumático, tumores e doenças metabólicas. Por vezes não é possível diagnosticar a causa exacta da lombalgia.
           As lombalgias podem também ser de origem traumática, com ou sem fracturas.
           Para além das patologias referidas, outras há que podem dar sintomatologia reportada à região lombar, como é o caso das hemoglobinopatias, da patologia renal, da patologia ginecológica, da patologia vascular e da patologia gastrointestinal.
           No caso da lombalgia simples, a dor é localizada, sem irradiação. Já no caso de estarmos perante uma hérnia discal, à lombalgia associa-se a dor radicular, uma dor irradiada para os membros inferiores, que se agrava na posição de sentado. Para além da dor, existe um conjunto de sintomas associados que estão relacionados com a compressão das raízes do nervo ciático que vão sucessivamente emergindo pelos buracos foraminais ao longo da coluna, tais como sensação dormência ou formigueiro, com irradiação frequente para baixo do joelho.
            No caso da Estenose Lombar, ou canal estreito lombar, resultante das alterações degenerativas que condicionam uma diminuição do calibre do canal onde se encontra a medula espinal e as suas ramificações, a ciatalgia não é predominante, sendo característica a claudicação intermitente, uma dor e sensação de falência das pernas que surge após percorrer uma certa distância.      
            Para o diagnóstico da etiologia das lombalgias, além da anamnese e do exame físico, podemos socorrer de manobra diagnósticas como por exemplo os testes de Lasègue ou Bragard.
Para um estudo mais aprofundado recorremos aos Exames Complementares. O primeiro exame solicitado é o RX, o qual possui um interesse limitado pois só permite avaliar as estruturas ósseas e geralmente sem correlação com a clínica. Para um estudo mais aprofundado utilizamos a TAC (mais dirigida às estruturas ósseas) ou a RMN: examina todo o segmento; melhor definição para as partes moles. Este estudo pode ser complementado com a EMG para a diferenciação dos sintomas radiculares ou a Cintilografia em situações específicas.
            O tratamento das lombalgias agudas é geralmente conservador e apenas 10% dos casos requerem cirurgia. O tratamento da lombalgia tem por objectivo aliviar a dor e pode incluir repouso no leito de curta duração, analgésicos, anti-inflamatórios não esteróides (AINE), relaxantes musculares, fisioterapia e por vezes o uso de cintas de apoio lombar ou lombostatos.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Abordagem do Doente Ortopédico.


Abordagem do Doente Ortopédico.

por Amigos do Hospital de Barcelos a Sábado, 28 de Janeiro de 2012 às 11:47 ·
     Ao discutir o tema Abordagem do doente em Ortopedia é necessário clarificar alguns conceitos.
     A ideia vulgar é de que o ortopedista trata das doenças dos ossos mas a Ortopedia é a especialidade médica que trata da patologia do sistema músculo-esquelético relacionado com o aparelho locomotor. Patologias ósseas relacionadas com crânio são do âmbito da Neurocirurgia, patologias ósseas relacionadas com os ossos do tórax são do âmbito da Cirurgia Geral ou da Cirurgia Cardiotorácica e patologias relacionadas com os Ossos da face podem são do âmbito da ORL ou da Cirurgia Maxilo-Facial.
     O campo de acção da Ortopedia é o estudo, desenvolvimento, conservação e restabelecimento da morfologia e função das extremidades e da coluna vertebral, decompondo-se na Ortopediapropriamente dita e na Traumatologia.
     Como chega o doente ao Ortopedista?
     A nível Hospitalar existem 2 grandes portas: a Consulta Externa, com patologia predominantemente médica como é o caso da consulta ou o Serviço de Urgência com patologia mais do foro traumático.
     Independentemente da porta de entrada, a abordagem inicial do doente ortopédico deve começar sempre por uma História Clínica, como em qualquer outra especialidade, se bem que mais orientada para a patologia Ortopédica
     Da História Clínica devem constar
1-Anamnese ( um conjunto de questões colocadas pelo profissional de saúde que procura criar uma orientação inicial para permitir uma análise que permita chegar ao diagnóstico da doença)
2-Exame Físico ( classicamente :inspecção, palpação, percussão, auscultação (de interesse limitado na ortopedia), a que se acrescentam testes e manobras que auxiliam o diagnóstico
3-Meios complementares de diagnóstico (para confirmar ou excluir patologias depois de ter um diagnóstico de probabilidade, na sequência dos dois passos anteriores e nunca em sua substituição)
     As queixas mais frequentes do doente do foro ortopédico são:
1- Dor (definir a sua Localização, Intensidade e Tipo)
2- Deformidade
3- Impotência Funcional (perda ou diminuição da função de um membro ou articulação)
4- Claudicação: por dor; por deformidade; por impotência funcional;
     Como nas demais especialidades médicas a Dor é a principal razão que leva o doente a procurar o médico
     A dor pode ser caracterizada quanto à localização:
  • Dor Local: no mesmo local da causa desencadeante: Precisa
  • Dor Referida: Local diferente embora próximo: Imprecisa
  • Dor Irradiada: Superficial; distribuição topográfica bem definida
    A dor pode ser caracterizada quanto ao seu tipo
  • Dor Óssea: constante, surda; intensifica-se geralmente à noite
  • Dor Articular: Relacionada com mobilização da articulação; Alivia com o repouso; posições antálgicas
  • Dor Muscular: contracção do músculo; sem necessidade de mobilização articular;
  • Dor Mecânica: pode surgir de manhã ao acordar; intensifica-se com a marcha
  • Dor Inflamatória: intensifica ao acordar; obriga a levantar da cama; não alivia com o repouso;
  • Síndrome da Loca: Dor intensa que se agrava com extensão passiva dos dedos
     Após a anamnese segue-se o exame físico centrado na região afectada
1- Inspecção: permite-nos a percepção de Deformidades, sejam elas dismorfias ou dismetrias. Permite-nos ainda a avaliação da postura corporal, percepção de anormalidades da marcha ou transtornos neurológicos.
2- Palpação: permite-nos a detecção de pontos dolorosos, sinais inflamatórios, consistência de tumefacções, crepitação
3- Percussão: por exemplo sinal de Tinel para diagnóstico de Síndrome do Túnel Cárpico, ou outras patologias.
4 – Manobras ou testes específicos: Lasegue, McMurray, Apley…
5 - Determinação das mobilidades articulares e suas limitações (rotação, extensão/flexão, adução/abdução, pronação/supinação…
6- Medição do perímetro e comprimento dos membros
7- Avaliação da potência muscular
8- Exame neurológico sumário
     Estabelecida uma orientação para o diagnóstico apoiamo-nos então nos exames complementares de diagnóstico
1- RX (2 incidências, face e perfil, complementadas com outras adicionais, obliquas, trans-oral, escafóide, e outras incidências particulares), onde avaliamos:
a)Forma
b)Estrutura
c)Contornos ósseos
d)Cartilagens de crescimento e centros de ossificação secundários
e)Interlinha articular
2- RX dinâmicos
3- Ecografia
4- TAC
5- RMN
6- Cintilografia
7- Densitometria Óssea
8- Exames Laboratoriais
9- Electromiografia
10- Artroscopia
     As particularidades do esqueleto em crescimento, obrigam-nos a separar a Ortopedia, e a Traumatologia em dois grandes grupos referentes ao Adulto e à Criança, a qual cria o campo próprio da Ortopedia Infantil.
Além da Ortopedia de Adultos e Ortopedia Infantil temos a acrescentar um outro campo com patologia específica, a Oncologia Ortopédica.

Que futuro para o SNS?


Que futuro para o SNS?

por Amigos do Hospital de Barcelos a Sábado, 5 de Março de 2011 às 15:30 ·
            Há alguns anos atrás os nossos políticos entenderam que a maneira mais eficaz de ter melhores serviços público com menos custos passava por alterar o modelo de gestão, aplicando neles os mesmos princípio da iniciativa privada, tendo como objectivo fazer face às despesas crescentes com o sector da saúde. A nível hospitalar esta alteração passaria por converter os hospitais públicos em entidades que seriam geridas como empresas, criando no governo de Durão Barroso o modelo de gestão empresarial que transformou os hospitais em Hospitais S.A., renomeados E.P.E pelo executivo de José Sócrates.
            O objectivo deste modelo era conter os custos da saúde sendo entregue a sua direcção a um Conselho de Administração com vários vogais e de remuneração incógnita, frequentemente assessorados por jovens licenciados, contratados não se sabe bem como e que deveriam encarar a gestão das unidades de saúde seguindo os mesmos princípio de administração de uma outra qualquer empresa.
            A fórmula milagrosa para conter os custos passaria por aumentar a produtividade que se conseguiria impondo um aumento do número de actos médicos e de enfermagem (sem que se criem melhores condições, pois isso acarretaria mais despesa...), diminuir os encargos com remunerações.
            Este constante “espremer” dos profissionais levou a que os melhores se fartassem do sistema e abandonassem o sector público para investir em exclusivo no privado que normalmente oferece melhores remuneração e melhores condições de trabalho.
            Não são contudo os encargos com mão-de-obra os únicos responsáveis pelo acréscimo da despesa dos hospitais.
            Factores como a complexidade tecnológica crescente dos meios de diagnóstico e tratamento - inevitavelmente dispendiosa, mas que possibilita resultados inimagináveis há poucos anos - o custo adicional do desenvolvimento de novos fármacos mais eficazes e melhor tolerados, o aumento da esperança de vida da população (com o respectivo aumento de patologias próprias dos idosos), a medicina defensiva (empolada pela agressividade da comunicação social) não parecem ser devidamente tomados em conta quando se refere o aumento dos custos dos cuidados de saúde!
            A racionalização dos encargos com o SNS impõe por um lado uma maior pressão sobre o trabalhador a troco de salários cada vez mais reduzidos, numa clara desvalorização dos actos médicos e de enfermagem, mas necessita ir mais longe, o que só será possível com uma medicina de pior qualidade, com limitação de meios diagnósticos e de tratamento.
            É curioso contudo notar que este aparente poço sem fundo de despesas desperta cada vez mais a cobiça dos grandes grupos económicos que se digladiam entre si para conseguir a gestão deste ou daquele hospital.
            Privatização! Essa é a variável que alguns iluminados dizem fazer falta na saúde, cada vez mais convertida em negócio.
            Em que medida a privatização da saúde tem beneficiado o utente? A resposta é fácil e clara - EDP, PT, Transportes, Galp, Águas e Saneamento, Banca e outras empresas privatizadas: em que beneficiaram o utente? Temos tarifas mais baixas e melhores serviços ou será justamente o contrário em alguns casos?
            Lucro! Irão os privados investir num negócio que não gere lucro, um lucro compensador dos pesados investimentos?
            Será que os milhões investidos pela Banca em sistemas de Seguros de Saúde se irão perder nos hospitais-empresa que tudo prometem dar a troco de nada mais que os impostos que agora pagamos?
Dito de um modo mais claro: Quem irá esbanjar dinheiro num seguro de saúde se o Estado der uma boa resposta às carências de cuidados de saúde das populações? Irá a Banca perder milhões com o abandono dos seguros de saúde, assim tornados desnecessários?
            Não me parece. Os hospitais-empresa serão parceiros dos grupos privados no lucro que dará o negócio da saúde.
            De onde virá esse lucro que faz brilhar os olhos de todos os que vem a medicina como um chorudo negócio? Talvez seja bom começarem a pensar que esse lucro talvez possa vir do próprio bolso e de uma menor cobertura de cuidados à população...!
            ... Ou então acreditem em milagres!

Armando Emílio da Costa Caldas