quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Traumatismos Vértebro-Medulares


     

          Os traumatismos vértebro-medulares são uma das lesões de toda a patologia traumática ortopédica mais temidas pelas suas possíveis consequências, sendo a imagem da cadeira de rodas um dos horrores que lhes estão associados.
           A coluna é constituída por um conjunto de ossos empilhados, distribuídos entre sete vértebras cervicais, doze vértebras dorsais, cinco vértebras lombares, sacro e cóccix, entre as quais se interpõe uma estrutura fibrosa, o disco intervertebral.
           Para além da sua função de ser um sistema estrutural de ligação entre os membros inferiores e a parte superior do organismo, a região posterior das vértebras compõe um canal que serve de abrigo à espinal medula, um longo cordão fibroso com a função equivalente a uma importante auto-estrada que liga o cérebro às várias estruturas do corpo humano. Ao longo da coluna vertebral vão emergindo sucessivamente ramificações que dão origem aos nervos periféricos, estradas principais emergentes da medula e que se vão progressivamente ramificando para chegar a todos os extremos do organismo.
           A gravidade das lesões da coluna não estão tanto relacionadas com a lesão da estrutura óssea, mas sim com a extensão do lesão neurológica, ou com a possibilidade desta acontecer em virtude da falta estabilidade da lesão vertebral.
          Felizmente a coluna é uma estrutura resistente e a maior parte das lesões que atingem a região não passam de contusões das partes moles circundantes ou estiramentos musculares, os quais, para além da incapacidade natural nos dias ou semanas que se seguem ao traumatismo, não provocam sequelas significativas.
          Como já foi referido, a estrutura óssea elementar da coluna é a vértebra, formada por um cilindro achatado, o corpo vertebral a que se acrescenta um anel ósseo na sua região posterior envolvendo a medula espinal, no qual se encontra relativamente protegida das agressões externas. Para além destas estruturas, as vértebra têm ainda umas saliências, as apófises, que se destinam à articulação entre elas ou à inserção de músculos e ligamentos.
          Classicamente, para efeitos de trauma, a vértebra é estruturalmente dividida em três colunas, a anterior, a média e a posterior.
          Os traumatismos da coluna ocorrem geralmente por quedas em altura ou na sequência de acidentes de viação, acidentes desportivos, choques eléctricos, soterramentos ou agressões.
          A secção da vértebra atingida mais frequentemente é o corpo vertebral, sendo a lesão mais frequente o achatamento da parte anterior do corpo vertebral. Para além dos ossos também outras estruturas como os ligamentos ou os discos intervertebrais podem ser atingidos.
         As fracturas podem ter vários padrões, associadas a maior ou menor instabilidade, com maior ou menor possibilidade de condicionarem lesões neurológicas, as quais têm geralmente carácter definitivo, podendo variar desde simples e pouco pronunciados achatamentos do corpo vertebral a lesões cominutivas, isto é em vários fragmentos, atingindo as três colunas estruturais.
         Uma fractura com ligeiro achatamento pode ser tratada de forma conservadora, recorrendo a ortóteses, aparelhos ortopédicos, que se destinam a manter a coluna em hiperextensão, evitando movimentos que poderiam levar a um agravamento da lesão.
         Uma fractura instável necessita de um tratamento cirúrgico capaz de promover a desejada estabilização através de implantes metálicos que são colocados nas vértebras.
         A gravidade dos traumatismos vertebro-medulares está directamente relacionada com o grau de atingimento da estrutura nobre que a coluna aloja na sua parte posterior, a medula espinal. Quanto mais proximal, ou seja mais perto do cérebro for a lesão, mais extensas e graves serão as sequelas.
         As consequências da lesão neurológica variam consoante o seu nível. Uma lesão completa a nível da coluna cervical provocará a interrupção da transmissão nervosa a esse nível provocando sequelas logo abaixo do pescoço, resultando na tetraplegia ou seja paralisia dos membros superiores e inferiores. Já uma lesão completa a nível lombar só provocará uma lesão dos membros inferiores, a paraplegia, sendo de salientar que um traumatismo a um dado nível da coluna provoca lesões em todos os níveis que estão abaixo e nunca acima da lesão.
          Os sintomas variam consoante o tipo e a gravidade do traumatismo, desde simples dor local, mais ou menos forte a alterações neurológicas como alterações de sensibilidade diminuição da força muscular ou mesmo paralisia e incontinência de esfíncteres.
          Quando há lesões neurológicas, a avaliação da distribuição topográfica cutânea da sensibilidade, os dermátomos, permite-nos estimar o nível da lesão.
          Quando há uma suspeita fundamentada de fractura o traumatizado deve ser imobilizado até ser devidamente avaliado clinicamente, devendo sempre ser evitada a mobilização desnecessária.
          O exame inicial é o RX que só nos mostra as lesões ósseas. Para melhor caracterização das fracturas e avaliar a sua gravidade é por vezes necessário recorrer à TAC ou à Ressonância Magnética, estando este último exame mais indicado no caso de existirem lesões neurológicas associadas.
         O tratamento, como já foi dito, pode variar desde o simples repouso e alívio dos sintomas até à imobilização com coletes específicos ou à estabilização cirúrgica das fracturas.
         O prognóstico depende da gravidade das lesões neurológicas associadas, se bem que mesmo nos casos mais simples seja vulgar uma dor residual que se prolonga no tempo.

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